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Nos filmes, a infinita possibilidade da observação.
Ao longe, mais perto, no globo ocular, no 'coração das trevas'.
No coração das trevas a visão perde reconhecimento imediato - não a nitidez, pois o conceito deixa de fazer sentido.
Como alguém que vive o pressentimento.
A imagética, quando esta se mantém, já não se representa a si própria, mas apenas o seu símbolo.
A vertigem contida nas suas franjas: representação mais provável dentro de um conjunto indeterminado de hipóteses.
Ângulo de 90 graus em todas as direções, como se sabe, o caminho para a dimensão superior.
Na circunstância, para que o olhar do espectador não se confunda com o do louco é preciso um apoio, o som - não sei se complemento é a melhor expressão, mas é percepcionado desse modo (vale o argumento da navalha de Ockham).
Em The Zone of Interest, pessoas vivem paredes-meias com Auschwitz, e vivem felizes no que a existência tem de simples. Habitam fisicamente um espaço impossível - porque aceitam o valor ilimitado da simulação perfeita? Sim, aceitemo-lo. Se ao Diabo é permitido fazer crer na sua inexistência...
Quanto aos espectadores, não têm essa possibilidade.
Há dois filmes a correr na nossa mente. O som é a manifestação do segundo. Gritos e disparos fora de campo, não por acaso dentro do Campo, onde nunca entraremos. Ou os sons que fazem a passagem da mente absolutamente corrompida para a humanização mais pura (a história da carochinha que o verdugo nazi conta à filha antes de dormir, enquanto lá fora, na noite escura, a rapariguinha esconde maçãs para os prisioneiros).
A evidência de Auschwitz, sem a qual estaríamos perante algo tão devastador quanto a anulação mais dolorosa do ser.
Aqueles nazis sorridentes têm o contraponto moderno nos comícios de Trump.
Hão de ser feitos filmes. Em princípio, sobreviveremos para os ver.
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