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Era uma vez um homem de aspecto estranho, sempre vestido de preto e de óculos de sol igualmente pretos. Compunha e cantava. Não menos singular era o seu comportamento em palco: sempre estático. Apenas a voz, aquela voz. Como uma esfinge na ineludível expressão de um poder imenso.
A voz, aquela voz, começava por se soltar numa falsa quietude, crescendo em intensidade, mas não de forma violenta, até que atingia o limite onde permanecia, a partir desse momento intocável, como se a estátua-viva já se encontrasse num estado de absoluta compreensão. Talvez até para lá de. Mas de quê? Do pesadelo? Seria expiação? Possivelmente – Em todo o caso, todo o peso dessa compreensão, não sendo nossa (que apenas ouvíamos a voz, aquela voz), teria necessariamente de cair sobre nós, pobre audiência ainda - quem sabe se para sempre - incapaz de entender. E que carga sobre tão frágeis ombros!
“Como um criminoso profissional”, afirmou certo dia Bob Dylan sobre aquele homem tão estranho; que viu morrer a primeira mulher, com apenas 25 anos num acidente de viação, e dois dos seus então três filhos, ainda crianças, num incêndio na sua propriedade em Memphis, Tennessee, no espaço de 2 anos.
Como um criminoso profissional - Pois claro! É que, mesmo sem compreender, ainda nos resta o que resta de memória efectiva e alguma que outra capacidade para resolver quebra-cabeças (sem grande sentido lógico, sim, mas desculpáveis por serem estritamente emocionais), ou seja, independentemente da ordem: Candy Color Clown, David Lynch, Frank Booth e Blue Velvet – Para tantos de nós a primeira vez, e como tal (para os que apenas crêem nestes extremos como os possíveis) absolutamente inesquecível.
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