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Não foi possível escapar. Não há para onde fugir. Sou forçado a ler e, pior, a ver e ouvir. E o que vejo, ouço e leio diz-me que os que em tempos foram berço estão prestes a ser escorraçados da valorosa União. Culpa deles, dizem-me os que tenho de ter como meus; e que terrível circunstância esta, a obrigação de os ter como meus. Elevaram a voz, os inocentes que foram berço, agora fracos, destinados a perder. Vão perder. Mas não desistem. Acto de coragem? Claro! Acto de loucura? Depende. Os fortes não irritam, mas sim os fracos que se colam aos fortes e assim evitam ser – Não ser tornou-se em motivo para o triunfo. Mais uma vez falo dos meus. Dos que tenho de ter como meus. E desses já não quero saber. Mesmo que por vezes, em desespero de causa para com a minha misera humanidade consubstanciada, tenha de os ler e, pior, muito pior, ver e ouvir. Ponto final. Que se lixe também a ideologia. Cada um tem o Sócrates que merece. E a Maria com segundo nome de homem que merece (que até podia ser vista com bons olhos, ou seja, como uma mulher intrigante e bonita, mas, não sendo feia, tem as pernas demasiado gordas, o que, ao vivo ou a corpo inteiro, estraga tudo. Bem pintada na televisão, secretária de permeio, a coisa até escapa. Aquele ar frágil e pouco confiante em estranha mistura, confluência é a expressão, com o natural excesso de emoção sempre que o feminino toca o sucesso). Ou o Passos que merece. Ou o Costa que merece. Ou o Cavaco que… (bom, isso ninguém merece, nem sequer nós). Não voto por sistema. Encolho os ombros. A nobre justificação são as pessoas, que não reconheço. Não são bonitas. Não são brilhantes. Não falam de livros. Acreditam em falsos deuses (como o católico, ou todos os outros). Não dão a primazia às pessoas (mas, quanto a isso, hoje em dia já ninguém dá). Não sorriem fácil e livremente. Não acreditam no cinema (ao ponto de tal se notar, como se de uma outra pele se tratasse). São estritamente morais – sinónimo de falsidade. No fundo, não têm alma! Ponto final alongado, portanto. Mas não ressentido. Sorrio um sorriso válido e espontâneo. Tão espontâneo que só por muito pouco não o perdi. Sorriso cruel, porque nesse preciso instante recordo os gregos prestes a cair. Como é possível? Claro que é possível. Não só possível. É provável. Já não há Platão, porém em tempos houve. Que pena não haver vida depois da morte. Podíamos crê-lo em lágrimas, lá onde fosse. Imagem tão pungente como a da Pietá, não que quisesse ter o Platão nos braços. Sonhemo-lo, ao menos, como, em princípio, ele terá sonhado Sócrates. Já ninguém sonha. Só aborrecimentos. Só impedimentos à concepção do eu. Derradeira oportunidade não sei bem para quê. Como diz o Génio: “Pela singularidade e não por uma espécie de universalidade abstracta que não pertence a ninguém…”. Quem é o Génio? Eduardo Lourenço, pois claro! Que raio de sociedade esta, assente na falta de espaço por preencher. Não há espaço por descobrir no planeta, na totalidade ocupado pela nossa ambição. Por outro lado, a matemática descodificou o Universo, afastando-o de nós a velocidades inacreditáveis, pelo que, em rigor, não há espaço a descobrir, e certamente nada a preencher, é o que acontece perante o excessivo ilimitado. No interior, outra possibilidade, colocámos deus. Então e o eu? Nada de nada, a não ser que consideremos um I-Phone ou umas calças da Pepe Jeans algo. Lá confortáveis são, as calças de ganga. Mas para o I-Phone não vejo utilidade. Enfim, resumindo, os gregos para o abismo e todos bardamerda. É devido! Viva o novo Imperador!
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