Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Talvez esta. 22 de Junho de 1986. Cidade do México. Sete já ficaram para trás. Falta um: Shilton. Uma pena por ele, por eles. Não, nada disso. Nenhum tem razão para se sentir humilhado. Não era uma competição justa. Dentro de campo a vida não lhe pesava, a responsabilidade apenas um manto ténue que só raramente sujeitava às emoções (foi o corpo mais massacrado pelos adversários da história do futebol, aos sucessivos golpes respondia com indiferença, ou, por vezes, com um sorriso). Se concentrado naquele espaço, por aquelas nove dezenas de minutos, os ombros de Maradona suportavam o mundo inteiro. Ancorados nessa firmeza sobre-humana, todos os sonhos eram possíveis. Sonhos que eram nossos. Tornados nossos. Por isso, viver Maradona não é o mesmo que ver Maradona. Viver Maradona é tê-lo visto, é passado, é nostalgia. É o directo, o in loco. A imagem que resta é a que permite projectar a lenda: fotográfica, inerte, a completar por cada um que viveu (que, assim, tem o dever de a passar a quem não viveu - como memória desse sonho, i.e., pelo máximo do seu valor). Dizem alguns que a Maradona tudo se desculpava, mas não é bem assim. Não é que lhe tenhamos perdoado certos erros ou a decadência a olhos vistos, é outra coisa: simplesmente não havia alternativa. Que fazer? Não se esvazia um coração cheio de desejos cumpridos. Seria como cortar um dedo, e depois outro e depois outro…
Mal vai o mundo quando o pós do pós-punk já é apenas um olhar para trás.
Por fim: No Future!
Se há teledisco / canção que representa o salto (quântico é a palavra, do dic.: 'por meio de medidas não contínuas') que a música deu nos anos 80, enquanto estado de alma, quer dizer, é este / esta.
Vejamos:
. Ausência de lamento, substituído por uma provocação quase infantil;
. Risco estético, que implica o afastamento de uma visão mais séria da realidade;
. Rigor nas passagens, batida eficaz, discurso edulcorado, enfim, que não resiste, pelo menos, a dosificar com um leve toque de canela;
. Vontade de (a)firmar o compasso, encostando-o ao limite, a resistência meio enlouquecida que leva para a canção pop perfeita, cada canção enquanto (mil perdões!) versão definitiva.
Não passa por Joy Division quem quer, mas vale bem a pena.
O fantasma de uma fantasmagoria é, ainda assim, reflexo nas fronteiras do espectro. Desvio para o vermelho que não se vê, mas se pressente.
Não se deixem enganar, não diminuam as defesas...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.