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The Magnetic Fields: 50 Song Memoir

por slade, em 31.05.17

Não foi amor à primeira vista. A expectativa, essa sim, era imensa, as circunstâncias exigiam-no. Afinal, na memória (como não?), havia uma espécie de irmão mais velho que a seu tempo tudo esmagara. Uma sombra sem fim à vista numa Terra que é esférica e, por isso, sem fronteira definida – o que convém destacar, mesmo se óbvio, dados os tempos confusos.

Mas, há que admitir, é nos espectros, e de preferência noctívagos, que assenta este mundo. Sem rememoração e sem obscuridade não há equilíbrio possível, pois do outro lado vêm a grande velocidade e imparáveis a necessidade de explosão, a força do riso e a propensão genética dos humanos para o uso de máscaras. Se o admitirmos (ao mundo) como sombrio e deixarmos brotar a máscara sem resistência, então vale a seguinte premissa (alquimia de suporte para o mecanismo de sobrevivência): a existência como a maravilhosa impressão de um erro irreparável.

Ah! – Magnífico princípio para uma existência sem sentido em termos latos. Magnífica hipótese de busca de um sentido perfeita ou imperfeitamente integrado na pequenez do ser – suficientemente pequeno para estar vivo, no entanto; hipercomplexidade multicelular no limite ilimitado da probabilidade zero (o infinitésimo) neste universo gelado e vácuo e, enfim, para o que sabemos e de momento podemos saber, único.

Um nome aflora, um nome que estranhamente não gera fãs: Emil Mihai Cioran. O edificador da filosofia pessimista (que tem tudo a ver com o íntimo em relação ao infinito transitório, i.e., o que resta da vida, e nada a ver com o decorrer do dia-a-dia). O tal que dizia não ter inventado nada, apenas se limitara a “secretariar” as suas sensações. Sensações de desespero que nunca deixavam de ser racionais.

Mas Cioran era filósofo – que outra coisa podia fazer? A máscara de que usufruía tinha necessariamente um método por trás que a condenava ao rigor científico.

Stephin Merritt, músico, deus menor criativo, tem um espaço de acção bem mais amplo.

Palavras projectadas num dia de tempestade. Dia altivo; quatro camadas de nuvens claramente distintas, entre a brancura alva e o cinzento tisnado; de pressão atmosférica entre extremos; um tornado de aspecto temível no horizonte, mas que chega desordenado e já sem grande parte da força destrutiva, apenas vento forte sem direcção definida, sem constituição. 50 canções, uma para cada ano de vida do músico. Um disco perfeito para uma vida que foi o que foi até àquele ponto. Das vidas, sublimado o ridículo, não se espera perfeição – de alguns discos sim.

Três exemplos (e mais nada a dizer):

 

De "'86: How I Failed Ethics"

“Though majoring in Visual and Environmental Studies

And minoring in History of Sci

I had to retake Ethics from my Mennonite professor

For whom my skepticism didn't fly”

 

De "'95: A Serious Mistake"

“Which one of us will it be

To end this tale of misery?

When will this comedy turn sour?

A year, a month, a week, an hour?

All we can be sure of is it will

All good things come to bad ends

But still …

Let's undertake a serious mistake”

 

De "'92: Weird Diseases"

“Weird diseases

I get weird diseases

Whenever Krishna sneezes

I get weird diseases

So at the least sign of emotion

I got a tranquilizing potion

Thus from the time I was a young boy

I could feel neither anger nor joy”

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publicado às 12:05

A Morte e os Números Redondos: 20

por slade, em 29.05.17

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publicado às 14:28

TP 2017 - Ep. 1

por slade, em 29.05.17

dale cooper.jpg

 Foi ... esmagador!

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publicado às 09:55

Mais Orbison: Roy O.

por slade, em 17.05.17

Nada é mais estimulante que o inesperado. Mesmo se pouco, quase nada, nesta vida neste canto protegido da intempérie se discute nos termos de vida ou morte, certas coisas têm a virtude de nos levar a tomar posições não muito distantes da insanidade. Virtude? Sim, sem dúvida. Seja como for, se merecem resposta veemente é precisamente por se terem tornado subitamente vitais; ainda que, vistas depois a uma certa distância, não pareçam assim tão importantes.

Uma destas noites, enquanto discutia com um amigo meu sobre TUDO, surgiu o nome de Roy O. Ponto fraco. Entrei em delírio e pus a canção (They Call You) Gigolette para assim fazer tese, julgando que a conjugação daquele hino para os deuses com os termos da discussão tornaria os meus argumentos irrefutáveis. Afinal, trata-se de uma canção que começa no topo e sobe seis vezes de tom, todas elas (as subidas) em teoria impossíveis de concretizar, pois a tender para um infinito impossível de nomear, quanto mais de atingir.

Não foi assim; esse amigo, como se imbuído de uma vontade assassina, reduziu o colossal ao seguinte: Isto está um bocado datado.

Como assim? – Tentei não arrastar a voz, mas faltou-me o ar e o assim saiu serrilhado.

As orquestrações – estás a ver – ele faz apenas o que já se fazia, mas melhor…

Não estava a ver, e mesmo se estivesse ia dar ao mesmo. Certas coisas recusam-se por definição. Exaltei-me. Exaltámo-nos. Sem maiores consequências, por esforço mútuo. Contudo, ficou a marca.

O argumento é inaceitável. Mesmo se com algum suporte analítico na sequência, é por natureza superficial. Clockwork Orange, o filme de Kubrick, também está esteticamente muito próximo dos vícios da época em que foi produzido, e continua perfeito. Tal como Easy Rider, de Dennis Hopper. E os calções do Maradona também eram curtos demais, mas quanto ao potencial daquele pé esquerdo, enfim, nem com o auxílio de toda a tecnologia de ponta em espectroscopia se conseguiria vislumbrar o seu limite.

-

Roy O não era sequer um fruto da época. Não fazia o que outros já faziam, melhor. Não – Antes fazia o que os outros já tinham deixado de fazer, sem necessitar de qualquer qualificação a seguir.

Talvez conhecesse o Tempo melhor do que qualquer outro. Talvez tenha experienciado o que Einstein apenas conseguiu teorizar; notável acidente. Roy O como o primeiro (e único – por onde andam os outros?) Viajante no Tempo; para a frente e para trás no seu contexto, o arco da sua existência. No que de resto acredito firmemente.

E, assim sendo, o que viu? Viu a morte daqueles que amava. Viu a morte da mulher, esmagada contra um camião. Viu dois filhos consumidos pelas chamas. Viu ainda o instante da sua morte, tendo regressado no milésimo de segundo anterior, mas de perfeita consciência quanto ao fim que o esperava; com data e hora marcada. De regresso, não sobreveio o alívio. Que alívio, afinal?

A partir daí passou a viver como se vivem os pesadelos, no rebordo da percepção, erguendo barreiras, simulações funcionais. Como se a viver num estado para-temporal, aquém ou além da seta do tempo, na quinta dimensão, numa condição de estabilidade, fixidez, em relação ao futuro.

Veja-se como se vestia, de preto e sempre de óculos escuros, vestes robóticas com o objectivo de fixar para sempre a sua imagem (como as vestes do Terminator, de Schwarzenegger). Os óculos a cobrir os pontos onde os outros podem visualizar o tempo que vai passando, os olhos – pontos de pressão, onde se expressa a personalidade e vinca o envelhecimento.

Claro que para a sua música, Roy O, nessa circunstância, teria necessariamente de ir buscar referências ao passado, onde o que era (não que deixe de o ser) sombrio e terrível se pode desvanecer, atenuar, sob a capa da nostalgia.

Identificadas as coordenadas, pode-se finalmente entender o porquê de certas escolhas. Roy O vivia na dor e era um génio.

Quanto ao restante, das épocas e dos seus vícios, de que nos pode importar realmente, se já estamos para lá do firmamento.  

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publicado às 22:45

Dizer o pior do cinema de Malick.

por slade, em 13.05.17

Já se vislumbrava há algum tempo. Desde que os olhos de certos espectadores não se impressionaram com os planos cosmogónicos de The Tree of Life. Mas se havia o vislumbre, tal não era, obviamente, aprovação tácita para detestar. Essa parece ter chegado agora, com Song to Song.

Enfim, sou do contra, ainda não me apetece... Além do mais, jamais me permitiria não gostar de um filme em cujo título a palavra Song aparece duas vezes.

 

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publicado às 10:03

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publicado às 11:09


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