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Uma canção dos Pink Floyd perfeita sem a participação na composição de Syd Barrett? A resposta lógica à questão anterior terá sempre de ser: Não! Nem pensar!

Contudo, mais que não seja porque é no acidente que se constrói a lógica enquanto conceito, esses dois enormes acidentes da história da música, Roger Waters e David Gilmour (vulgares salteadores sem alma que ousaram continuar a fazer música sob o nome de Pink Floyd depois da partida do Grande Génio Syd), conseguiram compor a canção seguinte:

Vendo bem, o mérito de ambos é relativo, começa como uma canção dos Beatles retirada do alinhamento de Sgt. Pepper’s e acaba como uma canção de Syd Barrett.

Vampiros! Parasitas!

Mas lá que a canção é perfeita é. A esguia voz de Gilmour. E a letra maravilhosa. Que pena ter sido composta no Ano 1 da loucura de Syd e não no Ano 0 ou -1.

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publicado às 11:48

A todo o ser humano apto, i.e., ciente da sua funcionalidade, compete (e desde muito cedo) encontrar um caminho para a necessária distanciação que lhe permita sobreviver, num mundo onde quase tudo em quase todos os momentos o pode matar, com mais ou menos sobressaltos (consoante a parte do planeta onde lhe tenha cabido nascer). O caçador-recolector demasiado consciente da morte de que nunca verdadeiramente nos libertámos enquanto espécie.

Não sem perturbação (mas, por outro lado, como se do mais natural se tratasse), apesar dessa quebra, aparente fracasso do suposto elemento distintivo do duplo sapiens, o macaco sem pêlo encontrou algures a hipótese do milagre. Da percepção da perda das perdas ao encolher de ombros, logo seguido de um sorriso que sabe misturar sacanisse e prazer, raramente mostrando os dentes. Como um bom vinho, a que não se permite ser doce, e talvez por isso possa em certos casos tornar-se sublime.

Dizer que tal sorriso é alegoria é afirmar o óbvio. Mas que forma toma? De que modo se expressa? O aspecto do mundo é-nos servido por correspondências. Um cientista tem o seu sorriso (ideia feita teoria), o futebolista o seu (movimento feito progressão), o advogado o seu (acção feita justiça) e o artista também o seu (percepção feita sentimento). Dos exemplos anteriores o que mais se presta a equívocos é obviamente o sorriso do artista, uma vez que não tem consequência que o legitime de forma objectiva e imediata, apesar do crítico (não importa se a teoria é definitiva, o golo é sempre golo e a justiça ocorre quando transita em julgado – ponto; qualquer outra hipótese é a loucura). Um parêntesis no caso do cientista: é quando este se aproxima do artista, o que, aliás, acontece com cada vez mais frequência, e aparentemente de modo deliberado, que os seus procedimentos se tornam menos credíveis.

O movimento artístico tem, pois, a liberdade que outros não têm: pode provir, habitar e desaguar da/na loucura. O sorriso do artista não é o sorriso da mente lógica e racional, é o sorriso que assenta no sem rosto do que é cósmico no sentido emocional, que não tem princípio nem fim, que não é grande nem pequeno – pois não tem escala associada, e portanto onde se pode construir, ainda que muito brevemente, o milagre. Resumindo: uns escolhem deus, outros, descoberta a hipótese do sorriso cósmico, escolhem simplesmente continuar a sorrir – e destes, alguns escolhem testemunhar, outros, muito poucos, decidem espalhar a mensagem, sendo que todos acabam por rejubilar. Para os que suprimiram deus, é o rejubilar da consciência. Como respondeu Sócrates ao seu carcereiro, antes da sua morte iminente, enquanto aprendia a tocar uma ária de flauta (citação de Emil Cioran – que agia como se não rejubilasse nunca – e, afinal, como estávamos enganados a esse respeito!): Mas se vais morrer em breve, porque queres aprender a tocar essa ária? Precisamente para a saber tocar antes de morrer.  

Enfim, sem que lhe fizéssemos qualquer referência, estivemos a falar de Devendra Banhart e de um corolário do seu maravilhoso disco – Rejoicing In The Hands (ano de 2003).

E porque, enquanto artista, se pode dar a todos os luxos, também pode, de vez em quando, ser explicativo:

“ Well I knew I knew I could stand tall / I could lay low / This is the sound / That swims inside me / That circle sound / Is what surrounds me / This is the land / That grows around me / And these are the hands / That come in handy / Well we've known we've known / We've had a choice / We chose rejoice “       


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publicado às 14:44

Os Sonhos Fabulosos de Maya Deren

por slade, em 04.03.17

At Land (1944), música de Empusae

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publicado às 10:19


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