Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Tudo se pode fingir, dizia alguém cujo nome agora escapa. Pois nem tudo, não se pode disfarçar o génio, quer dizer, substituí-lo por aparência cool. Frank Black Francis sabe-o bem, demasiado bem, e mesmo assim não raras vezes tenta subtrair ao génio (toque que notavelmente tem) para que a discrepância com o seu aspecto não seja tanta... Felizmente para nós, que tanto o amamos, só muito raramente o consegue. Tão raramente que para dizer a verdade não nos lembramos de nenhum caso, enfim, bem-sucedido.
Hoje meio mundo andou a entrevistar o Herói. Algumas pérolas:
"Perdoa aos portugueses por terem desconfiado de si?"
"Foi um golo importante para si?"
"Até que ponto influencia a sua carreira ter passado a infância numa casa de acolhimento?"
"Este título mudou alguma coisa na sua vida profissional? Já percebeu o que aconteceu?"
"O que é que gostaria de perguntar a todos aqueles que duvidaram de si?"
E a tudo o Herói respondeu com um sorriso. Herói duas vezes. Não! Herói mil vezes... Marca o golo das nossas vidas e ainda tem de aturar com doçura (e que inacreditável doçura!) todos os alarves que lhe aparecem de microfone na mão.
Para o lago. Todos para o lago. Em voo elíptico, um após o outro. Ou atirados num único movimento de estonteante velocidade, com força e de lado como o teu remate imortal.
Viva o Herói!
Tempo visitado. A viagem irresistível.
Um olhar subjectivo, resistência a alternâncias bruscas de velocidade e uma visão impessoal do mundo são indispensáveis durante a viagem. Nada disto é gozo. O Tempo fez, mas apenas porque lhe foi impossível não fazer. Fez e fez sem pensar, quer dizer, para ninguém, mesmo quando brevemente, muito brevemente, corrompido por alguém.
Primer tem uma fama que muito orgulha o seu criador/realizador: é um dos filmes mais complexos alguma vez feitos. Um filme tão difícil de seguir que só voltando lá um sem número de vezes se poderia, enfim, aspirar à sua compreensão. Não imaginamos muitos realizadores de filmes americanos capazes de se vangloriar de tal fama. Mas Primer é um filme especial. Ainda por cima, abençoada soberba, pensado para ser especial, pois Shane Carruth escreveu-o confiando absolutamente no espectador. Meus caros, sei que muito ficará por perceber, sei que os primeiros 79 minutos serão pouco mais do que isso mesmo, apenas os primeiros 79 minutos de umas quantas vezes 79 minutos, imaginamo-lo a dizer a cada um de nós com o seu melhor sorriso; sorriso de grande simpatia que garante pelo menos uma segunda investida. Sendo que essa segunda, por si só, garante uma terceira.
E depois, outra revelação: o que acabámos de ver custou apenas 7.000 dólares.
Ah, já me esquecia, é um filme sobre viagens no tempo e as suas consequências...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.