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Jodo, o demiurgo de sangue quente.

por slade, em 30.05.16

Os projectos de banda-desenhada de Alejandro Jodorowsky, sempre em colaboração com geniais desenhadores, são o que já se esperava para quem antes lhe viu os filmes: violentos; anárquicos mas desejosos de sentido; deflectem de ambiências reconhecíveis (falamos de espaço e tempo), mas como se a dada altura tivesse havido a necessidade de baixar a um universo alternativo, mantendo no entanto uma componente genética próxima (ou seja, vale a sequência: começou exactamente como o imaginamos, só que a certo momento, não muito depois desse começo, houve a necessidade de recomeçar, e então aconteceu assim – mesmos elementos originários, novos horizontes, portanto).

le lama blanc.bmp 

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publicado às 19:05

De uma belíssima selecção de filmes sobre a presença do índio, em relação à qual nada deveria haver a acrescentar, foi, no entanto, dito o seguinte:

Ou então, por se ter visto o Walter Hill lá no meio [Geronimo: An American Legend (1993)], colocar em qualquer parte algo que mostre o índio que remanesce, o colono resistente à civilização US of A. Falo de Southern Comfort (1981), do mesmo Walter Hill.

O Índio, cavaleiro solitário ou em tribo, tal como nos habituámos a ver os masterizados nativos, no fundo reminiscência de uma ideia puramente ocidental: o desejo secreto de não pertença, índios antes dos índios, e quem sabe se antes dos índios da tal Índia – para onde todos os mares levavam de uma forma ou de outra (ou porque levavam ou porque deveriam levar).

Sucessão de erros, claro está; erros a remeter para o desígnio de um sonho e, contudo, a redundar (exclusivamente) na morte como desígnio. Os índios do 'meio físico América', os que apetece chamar verdadeiros e não meramente autóctones, pois também, enfim, americanos (senhores daquela terra em tempos idos, americanos antes de Vespúcio), não tinham hipótese, pois não havia referência onde pudessem encaixar (não eram sequer os outros por antítese a nós – a América é um conceito ocidental europeu, que o seu índio desconhecia, e para o ocidental europeu de gema um lugar que não deveria estar ali, um erro por natureza).

Mas desviamo-nos também nós – No fundo, quando falamos do outro índio americano (e que melhor exemplo do que os Cajuns dos pântanos da Louisiana, descendentes dos Acadianos de uma região mais a norte e mais fria), falamos de uma fuga que remete para o regresso impossível a casa. Regresso que não se deseja, e que por não se desejar não pode deixar de ser invocado como razão para prosseguir. E vai sendo gradualmente esquecido, até que cessa a marcha e passado algum tempo nada mais resta do que a memória inconsciente e originária, a memória das cavernas. Sendo que estes índios, por serem o outro que há em nós, são bem mais temíveis…e não tão fáceis de fazer desaparecer.

Ainda quanto a Southern Comfort, em resumo e na sequência do que foi dito, não seria de bom-tom deixar de notar a dupla ironia: é o outro que em nós habita que nos assusta e derrota, e as partes digladiam-se numa terra que não só não lhes pertence, como é um equívoco na essência.

É óbvio que não vinga o verdadeiro índio. Não pode fazê-lo, está fora do seu alcance. Esse filme, se de um filme precisamos, é The Shining, de Stanley Kubrick (não por acaso, o primeiro da lista mencionada no início).

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publicado às 19:00

O que mais fascina na ficção é a possibilidade de ir longe demais, o que raramente acontece. Os americanos gostam de pensar que o fazem, o que por norma fica longe da verdade. Não neste castelo, onde as cartas são como vigas de betão armado sobre areia fina. Por momentos, temi (/suspeitei) entre sorrisos inevitáveis que (todas) as forças convergissem para o homem (Richardson/Urquhart) e dali fossem expelidas como ricochete primordial, mas não, é algo ainda melhor, uma espécie de Gaia envolta na sua burocracia específica. Um sistema que não existe em torno de um homem (seja ele quem for), mas em torno de si mesmo, autoconsciente, capaz de compilar e dispor - impossível de abater. Ainda que, claro, ele próprio preparado para matar, usando o homem como peão para atingir os seus propósitos. Homem-peão que mata homem-peão. A ironia final reside no jogo de sugestões a derramar no Homem como Tragédia: Ser quase consciente da sua perda – viciado congénito fingindo acreditar que a próxima dose será a última... Creio que nunca se tinha escrito sobre o indizível que transcende a espécie, isto é, sobre o seu estrepitoso falhanço, como o fez o argumentista desta série. Impressionante. Que o Pessimista se sinta finalmente vingado lá no alto do seu pedestal.

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publicado às 12:22

CA1_Patrick_Modiano_op.jpg

Patrick Modiano era um nome desconhecido para muitos quando em novembro de 2014 lhe atribuíram o Prémio Nobel da Literatura. Lamentavelmente incluía-me nesse grupo. Como sempre acontece nesses casos, a partir do galardão sucederam-se as edições e a descoberta tornou-se obrigatória. Chegou tarde mas chegou pelo que os lamentos terminam aqui.

Livros breves, são raros os que ultrapassam as cem páginas, e que ousam começar num ponto que podemos definir por qualquer. Começam ali como poderiam começar noutro lado. Há um rasgo (contido em muito pouco, mas ainda assim um rasgo) que despoleta uma memória que só por um muito ténue fio de espaço-tempo-âmago se distingue de todas as outras, ténue filamento que não podemos de imediato apreender. Modiano é alguém que entende a virtude da subtileza, diga-se. Vamo-lo percebendo em frases simples, quase sempre curtas e numa escrita escorreita que parece eliminar todas as outras hipóteses de o colocar como ideia. É quase sempre um pensamento, mas também pode ser o instante de um sonho.

Daí, Modiano encaminha-nos para onde tivermos de ir pela necessidade da sua personagem. Todavia, se as areias onde o leitor se balança são movediças, não o são menos para a pobre personagem, que parece saber de si tanto (enfim, tão pouco) quanto o leitor. Não sabe porque fez por esquecer, como agora é forçoso que redescubra. E nós com ela, com a vantagem de o caldo arenoso do pantanal nos dar pela cintura quando a pobre personagem já o tem pelo pescoço.

Mas que não se pense que Modiano nos poupa. Por exemplo, no seu último romance, Para que não te percas no Bairro (Pour que tu ne te perdes pas dans le quartier), o que começa como uma intriga policiária para a qual somos naturalmente chamados, onde na altura que tomamos como certa aparecem palavras como chantagem e homicídio, onde se fala de reuniões misteriosas com personagens misteriosas numa casa de campo de contornos míticos, sem que disso nos apercebamos (a não ser quando já é demasiado tarde) vai-se transformando na viagem ao labirinto da mente de uma criança que ficou por crescer e agora tem o corpo de um sexagenário; e no final, sem chantagens nem homicídios, sem personagens fabulosos em ambientes míticos, tudo e todos atirados para um canto, resta a aterradora memória do dia em que o personagem ficou sozinho em casa. Com tudo o que terá ficado por dizer sobre as coisas que julgávamos importantes…

 

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publicado às 18:27

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publicado às 10:06

Radiohead: Burn the Witch.

por slade, em 04.05.16

Nova música dos Radiohead na plataforma que juraram odiar, o Youtube... Enfim, odeio-te, mas preciso de ti.

A música não é espantosa, é sublime. O teledisco é simplesmente Radiohead; isso e um salutar piscar de olhos ao fabuloso The Wicker Man (1973).

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publicado às 19:49


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