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Primo Levi sobreviveu a Auschwitz e suicidou-se de forma improvável na sua cidade natal, Turim, em 1987. Ou seja, 42 anos depois de Auschwitz. Acreditemos que assim foi, aborreceu-se de morte e ter-se-á atirado de um terceiro andar pelo interior da escadaria para lhe fazer finalmente a vontade. Falhou todos os obstáculos tendo assim cumprido o desígnio que não fora miraculosamente o de Auschwitz.
O não pequeno problema em relação a Auschwitz (gostaríamos de dizer 'o maior', mas prudentemente não o faremos - prudência que não será apanágio do resto destas palavras) é pensar-se que a vida simplesmente continuou. Não só o pensamos como o dizemos. O fazemos. A vida continuou e continuará sempre porque tem de continuar. Pois não pode, e muito menos simplesmente! Não depois de Auschwitz. Restava-lhe a regeneração por inteiro ou o favor do desaparecimento. O que aconteceu nos campos de extermínio é a derrota da especificidade de espécie (o segundo sapiens), a vida ter simplesmente continuado é a derrota do primeiro sapiens. Portanto, a vitória do animal. Deixámos de poder invocar deus e continuámos a fazê-lo. Mais do que perder a vergonha, tal deixou de fazer parte das contas.
E, no entanto, quando só o fim parece lógico, lemos Levi e verificamos que o escritor da memória (integralmente) fidedigna se manteve lúcido, racional e honesto, e jamais cedeu ao desarranjo do ressentimento e do ódio.
Pelo que, sim ainda é possível admirar um dos nossos antes desse necessário Fim.
É tão simples: tenho uma propensão para filmes sobre adolescentes americanos e (também) para ficção científica, venha ela de onde vier. Depois apareceu um miúdo de 25 anos, e aconteceu - e no que ao tal miúdo concerne não voltou a acontecer... Não faz mal, pois já tinha acontecido.
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