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Não se encontra facilmente quem esteja disposto a aclamar o outro melhor filme da história do cinema. Mesmo por parte daqueles que dizem amar o cinema. De certa forma, é natural, esmagado que se encontra na memória colectiva pelo irmão mais velho, Citizen Kane. Não muito, uns (viemos a saber mais tarde) desconcertantes dez meses. Hoje diz-se muito: de filme truncado a filme destruído, do final seco e triste desejado por Welles transformado num sorriso de aceitação conciliador. O que sabemos, pela fonte, o próprio Welles, revela um coração partido devido à intromissão do estúdio. Mas isso também faz parte da lenda.

Em rigor, nada disso importa para o espectador emancipado. Sedento de se expor. 

Aqui me encontro, então, disposto a afirmar: Ambersons é o meu Welles!

Qual é o segredo (ou um acesso possível)?

De entre o que ficou em Ambersons, temos em um objecto fílmico mais depurado nos elementos do que acontece em Citizen Kane, vanguardista por definição. Um processo que neste último se constrói através das possibilidades do cinema (e tanto havia para explorar em 1941, com Welles como o santo-patrono ideal), e destas reverte para a personagem; por sinal enquadrável numa outra, real, William Randolph Hearst, polémico magnata da imprensa de então.

Charles Foster Kane, majestoso e sinistro, vive distante em todos os sentidos, é como se um deus enclausurado num universo próprio que apenas podemos ver de fora. É de constituição forte inclusive no dúbio. A solidão, quando chega, é a representação da queda dos deuses, com o que nos transcende exposto num mistério do qual nos resta falar sobre, mas apenas como quem olha para o topo coberto de nevoeiro de uma montanha imensa. Rosebud, palavra mágica e enigma imanente da história do cinema, a palavra que Kane profere no momento da morte, configura a sua hipótese perdida de contacto com a humanidade, e perdida desde muito cedo. Hipótese sem porquê – apenas funciona como questão, ou, de outra forma, como espectro.

Os Ambersons, pelo contrário, nunca perdem a dimensão do humano, e por via da mais humana das dimensões, o ridículo. Por outras palavras, são demasiado humanos. Irresistivelmente humanos. Ao ridículo, Isabel contrapõe outro ridículo e perde o amor da sua vida, Eugene. Pelo orgulho, que nada mais é do que o ridículo pretensamente escondido, George, o filho de Isabel, retira à mãe a possibilidade de reencontrar o amor de Eugene, já ambos viúvos, e com isso acelera a inexorável queda da família, os tais magníficos do título. A construção no erro tonto (/risível) é apanágio dos humanos…

Numa mansão como a dos Ambersons podemos ter a ilusão de um dia ser convidados a entrar, na Xanadu de Kane não, nessa resta-nos tentar espreitar pela janela (sempre no mesmo ponto do ecrã, como se à distancia dos sonhos, independentemente de onde é observada). Digamos que há uma condição de pertença que me aproxima de Ambersons.

Quanto à presença divina: Welles, ainda se mantém, mas apenas como Narrador.

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publicado às 17:19

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publicado às 19:39

Há uns tempos, numa mesa redonda dada a excessos teóricos, a conversa incidia sobre o olhar necessário para a construção de uma cinefilia afirmativa, moderna e inclusiva. Não se chegou a nenhuma conclusão quanto ao olhar, mas sim, estranhamente, quanto à cinefilia em causa. Forçosamente dual. Ou seja, dito de modo livre, alimentada a Mestres, mas que se saiba deitar com monstros, que não se centre exclusivamente num resultado algures entre 0,9 e 1,1 para a proporção: (valor elevado estética) / (valor elevado substância). É inútil gostar de cinema e desconhecer Bergman ou nunca ter visto o Citizen Kane, numa discussão séria ninguém ousará dizer o contrário. Mas é igualmente escusado deixar que uma vida se escoe sem se ter visto The Beast from 20.000 Fathoms, Fantastic Voyage ou uma selecção de Roger Corman. Generalizo, atirando nomes, por uma questão de racionamento…

Posto isto, reentramos nas madrugadas da RTP 1 de outro tempo. Sábado à noite, por exclusão de partes. O mundo era um pouco mais simples do que é hoje. Com divisões claras e facilmente entendíveis. Havia, por exemplo, os que tinham e os que não tinham jeito para as mulheres, ou então os que tinham e os que não tinham idade. Aqueles com jeito para as mulheres, atirados para a noite, com o seu quê de heróis modernos - cujas histórias de sucesso haveríamos de conhecer ao longo da semana que sobreviesse.

De entre todas, a casta mais baixa abrangia os que não tinham jeito para mulheres nem idade, a esses restava o aparelho de TV. Uma vez em posição, era fundamental saber ver para lá de um certo horizonte de acontecimentos. O que a física garante ser impossível, mas não é, pois a paciência é das poucas coisas que pode ser infinita. Ver, portanto, para lá dos intoleráveis programas de variedades (era assim para os que não tinham idade).

Meia-noite e meia ou coisa que o valha. Bastante tarde. O impossível tornado possível, o pré-genérico de uma qualquer produtora, e Wolfen (demorou quase tanto a chegar como os filmes de sábado à noite…).

Sempre que um filme começa por nos provocar um desconforto frio no estômago, diz-nos o instinto que devemos esperar o melhor. Foi o caso. História de lobos assassinos, não raras vezes mostrado do ponto-de-vista (subjectivo?) dos animais. Sinais quentes versus sinais frios alguns anos antes de Predator.

Conto de raízes ancestrais. Os vínculos profundos com o passado perdido de uma América que raramente se disponibilizou para observar - e nesse sentido a representar em cinema - o tempo pré-colombiano. Referimo-nos ao tempo emocional, é claro. Confronto de eras, apenas percebido pelos antigos. De povos sem idade ligados à terra de uma forma não materialista, e as consequências da invasão dos seus espaços pelo homem moderno. Wolfen é um filme sobre essas consequências sob a forma de homicídios sangrentos. O tema, então, já não era novo, a abordagem era.

Em conclusão, uma lança cravada no nosso olhar expectante com o poder dos sonhos misteriosos em que intuímos a materialização do horror logo desde o princípio. E é um filme violento? Quanto baste, mas não ao ponto de ceder à fraqueza que deitou a perder o cinema de terror moderno. Não é a violência exposta o que importa, é antes a expectativa violenta. Wolfen é um dos filmes que melhor o percebeu. Não lhe serviu foi de muito, nem ao seu realizador que, segundo consta, acabou como condutor de autocarros num daqueles estados do meio que nunca aparecem nos filmes.

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publicado às 01:10

Não tenho por hábito defender a liberdade, pois sempre me pareceu um pouco tonto defender o indiscutível...

Desta vez concedo. Fica o aviso: é violento.

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publicado às 18:19

- Bob Dylan (Subterranean Homesick Blues)

- The Prodigy (Smack My Bitch Up)

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publicado às 10:28

adeus plutao.jpg

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publicado às 10:29

Numa Terra com ar decrépito, a denotar um uso excessivo, encontramos dois robôs subitamente apaixonados com muito de humanos (aspecto e emoções de gente  – movimentos presos e interrompidos típicos de robô). Um outro, pequenito que os primeiros tratam como o filho desejado, com muito de robô e alguma coisa de humano (aspecto e mecânica de robô – emoções humanas). Os três em busca de um lugar onde possam construir um lar. Assim tão simples. Só que aos robôs está vedada a liberdade…

Ouvi falar do filme pela primeira numa crónica do Bénard da Costa, no Independente. Um filme visto num acaso, uma única vez. Muito difícil de encontrar. Que tinha dentro a coisa mais doce alguma vez registada em película. Referia-se ao pequeno robô, é claro.

Fiquei, como não podia deixar de ser (afinal, era uma oferenda do Mestre), deveras intrigado. Quando ou se alguma vez o iria ver era outra história. O acesso não era o de hoje – e as palavras de Bénard da Costa não eram especialmente encorajadoras.

Pouco tempo depois, numa daquelas madrugadas viciantes da RTP 1 em que os filmes apareciam de um qualquer limbo sem ser esperados, lá o consegui ver - um momento estendido na linha do tempo, e não muito, cerca de 75 minutos, que considerei semelhante a um estado-de-graça finalmente revelado. Gravei-o numa velhinha (em dois sentidos) VHS a partir do instante em que me apercebi de que filme se tratava; o que significou, então, que poderia ficar na minha posse para todo sempre e não voltaria a ver o genérico. Até que alguém inventou o Youtube...

Já não tenho forma de ler VHS, por falta de aparelho para tal, mas ainda tenho a cassete – o que também conta para certos efeitos estritamente ligados à nobre paixão pelo cinema.

O trailer:

Excerto - Cilp:

 

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publicado às 09:16

O maior provocador da história da música pop foi um francês e habituou-se (e habituou-nos) a jogar no limite. Nesta música talvez o tenha ultrapassado. Deixou-nos dois telediscos com dois rostos únicos - no dela já se antevia o que estava por vir. ...  Eis um deles:

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publicado às 20:11

- Johnny Cash (Hurt)

- A-ha (Take On Me) 

- Sinead O'Connor (Nothing Compares 2 U)

- Bjork (It's Oh So Quiet)

 

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publicado às 18:54

Se o nome do realizador vos diz qualquer coisa, podem estar certos de que estão certos – é esse Saul Bass. Phase IV foi o único filme que dirigiu, e foi um fracasso tremendo.

Tudo bem, o culto no cinema sempre se deu bem com a falta de espectadores.

Depois dos pássaros de Hitchcock, é a outra perturbante, obscura e bem-sucedida invasão/agressão por parte de uma espécie animal da história do cinema. Exagero, dirão. Talvez não sejam as únicas. São as melhores, garanto – merecem para lá de qualquer dúvida o risco contido na afirmação...

[Veio-me à cabeça o Tubarão, mas esse sabemos que tinha fome e estava sozinho e não foi bem sucedido nem no original, nem em nenhuma das horríveis sequelas. Não importa para o caso.]

As fabulosas formiguinhas, num filme de ficção que arrisca colocá-las no papel do sujeito. É caso para dizer, finalmente. Câmara apontada àquele caminhar estonteante. Soldado obediente e ao mesmo tempo cerebrozinho com ideias grandiosas, vá-se lá saber como. O outro sapiens da história, esse pobre espírito de genialidade latente, sempre um passo atrás. Escravo de dúvidas e incapaz de compreender aquilo que ele próprio ousou definir, a inteligência.

Vai longe este filme, diga-se por ser verdade, mas não tão longe quanto o seu realizador desejava, como se pode ver pelo final alternativo que o estúdio não deixou utilizar. É pena. Hoje conhecemo-lo, mas o timing já se perdeu. Agora não passa de uma curiosidade que, desta época medíocre, a maior parte olha com desdém.

Mais não digo, já tendo dito demais... Phase IV é um filme único!

O trailer:

O início do filme:

 

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publicado às 23:55

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