Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Capa da edição brasileira
Manual de instruções para a modernidade, e ainda como deve começar um romance que aspira a ser perfeito, i.e., deve começar perfeitamente:
"The sky above the port was the color of television, tuned to a dead channel."
Stills de Crimes of Passion - Filme de Ken Russell
[ou quando o pretenso erro cinematográfico inesperadamente (ou por embirração ou por espírito de contradição ou simplesmente por amor) faz sentido]
Imagem que nos impele para um estado de inquietação primordial, como se projectados para uma consciência forçada - a brutalidade de um nascimento (no fundo, uma devolução). Um súbito (luminoso?). Do muito que absorvemos, então sem a possibilidade de compreender... Trauma de que nunca mais nos libertamos, diga-se.
O que os Pink Floyd poderiam ter sido!
E não o que foram...
Quase nada, quando deveriam ter sido tudo.
Eis a prova:
Filme: Manhã Submersa, de Lauro António, da obra homónima de Vergílio Ferreira.
Construção de uma tragédia, a convergir para um único momento, deduzido muito antes, e gritado em off. O modelo é realista, mas com diálogos teatralizados (e, nesse caso, o que fazer com o rapaz – Joaquim Manuel Dias? Um achado com os seus XXXX a cada palavra). Os momentos de convicção que as circunstâncias depressam transformam em aceitação são geniais. Plenos de esforço contido; no fundo, a essência exacta (sincera) dos momentos de perdição juvenil, a terminar no cruel (austero) sorriso adulto: ‘Não é prexiso, minha Xenhora, xei que não tenho vocaxão!’ … ‘Não é prexiso, minha Xenhora, tenho vocaxão!’ O instante sacrificial é tão brutal como a frase final da mãe, ‘Não era preciso isto.’ Pois não era, e no entanto foi… Ah, e depois a luz (primada pela ausência nos exteriores, misto degradé de cinzas!).
-
Filme: Dead Man, de Jim Jarmush
Enfim, Jarmush…
Sobram coisas boas, e não assim tão poucas: A construção imagética, os acordes enérgicos (insubmissos) do inefável Neil Percival Young, o olhar denso e pestanejante de Johnny Depp, os rigores estéticos de um Wild West genuinamente mitológico… O conjunto intriga, ou começa por intrigar, mas a dada altura … exponha-se deste modo: se começámos por perder-nos no labirinto, é como se em seguida, numa sequência ainda por cima lógica, começássemos por subir, subir, e, enfim, o gozo do labirinto, como sabemos, perde-se se visto de cima, no seu todo; é como se o simbolismo fosse demasiado exposto.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.