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Teenage Wasteland:
[À primeira vista, podem pensar que estão perante um notável videoclip (e porque não?), mas não é, não apenas, também é uma das mais extraordinárias (e desencantadas e energéticas) sequências do cinema moderno... Longa vida ao grande S. L.]
A pedido de várias famílias, que não se mostram, mas sei que andam por aí!
Sabe a Verão pelo ritmo melífluo e porque nos obriga a olhar para trás. Como todos sabemos, Verão só é Verão perante a memória dos que já passaram... É a única estação sem Presente ou Futuro. Enfim, exagero, sob condições especiais um certo Futuro pode ser entrevisto, mas de muito pouco vale. Nem como sonho. Nem como desejo...
Por fim o grotesco assombro! Leio, ainda que com alguns dias de atraso (definitivamente, não é por fugir repetidamente do real que nos conseguimos salvar), que uma das propostas de alteração à lei sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez inclui a obrigatoriedade, por parte da mulher que solicite a IVG, de ver e assinar uma ecografia; isto no regular funcionamento do processo. Como!? E quem o garantirá? E como - sob coacção? Garante-se a assinatura e fecha-se os olhos à obrigação de ver? E de que forma? Fechada numa sala, holofote apontado? Durante quanto tempo? Trinta segundos? Dez minutos? Dez minutos, e com a explicação dos detalhes por parte de um médico solícito? Ou o anterior, mas com as explicações a cargo de um padre, ou então de uma senhora com ar austero, cruxifixo na mão e vestida à professora primária de outros tempos (anos sessenta tugas, claro)?
Alguém enlouqueceu e chegou a deputado. Que pena não podermos, também nós, os restantes, enlouquecer e, por fim, olvidar a condição humana. Desejo antigo - diga-se. Uma anedota, esta espécie que chamou a si mesma sapiens sapiens - A dupla sabedoria… Duplo dedo espetado em duplo rabo-alheio, isso sim!…
E sem deus, não resta ninguém para se para rir da espécie. Triste anedota, como se não bastasse...
Não há problema, rimo-nos uns de nós, de nós próprios.
Vamos a ver e no fim de contas a loucura chegou, sem a delicadeza de se fazer anunciar. Não, não pode ser, há um problema insolúvel: o desejo de loucura é, em si, a sanidade última.
Resta-nos esperar.
Tanto ressentimento só pode significar uma coisa: esta, vá-se lá saber porquê, doeu um pouco mais do que as outras.
Razão tem o Rusty Cohle.
Usar link abaixo...
“One last midnight, brothers and sisters opting out of a raw deal!” Tudo, é claro, ao vosso prazer - e não com demasiada responsabilidade. De outro modo não serve para nada.…
Acabou-se o ressentimento – Assim mesmo – Do nada, para nada. “One last midnight!”
O fotógrafo e astrónomo amador australiano Alex Cherney passou dezoito meses a fotografar o céu nocturno, no Hemisfério Sul, em busca de imagens da Galáxia. Letra grande, pois devemos reverência a quem nos permite existir. Assim fui e julgo que todos fomos educados. Imagens apenas possíveis em pontos de total escuridão e sob, digamos, condições extraordinárias de limpeza atmosférica. Quadros inabituais para o nosso olhar, como se de dentro para fora, e somente de uma pequena parte, quando, por sua vez (por uma vez), estamos habituados ao todo. Todo-poético-científico em forma de hélice esbracejante. O multipremiado resultado é de cortar a respiração... Como se nos devolvesse à poesia da descoberta original. Ou seja: como um portal de acesso directo a uma intimidade mágica que normalmente se confunde com os apetites ainda não delimitados da infância - e por isso está destinada a perder-se. Agora não. Não mais. É caso para dizer: finalmente!
(mais informações e imagens podem ser encontradas em www.terrastro.com)
Um filme de horror – foi-me dado a ler num momento de acaso. Sobre o sinistro destino de um batalhão nazi perto do final da guerra. Esquecidos nos confins da Roménia, ocupam um castelo e inadvertidamente libertam uma entidade milenar e demoníaca presa nas suas catacumbas. Para a combater, procuram a ajuda disponível, um professor de História e a sua filha, não sem ironia judeus, e ainda um louco que diz saber como destruir esse demónio.
E mais? Tempo passou. Não se encontra editado em DVD ou Blu-Ray. Não deverá ser reposto nos tempos mais próximos. Não recordo que, por cá, alguma vez tenha passado em televisão. O realizador abjurou-o logo após a estreia (estreia com pouco sucesso, diga-se). O autor do livro em que o filme se baseia detesta-o, e não perde uma oportunidade de o proclamar em voz alta. O que nos resta? Fazer como o Capitão Kidd. Com enormes vantagens, no entanto, facilmente expressas em três pontos: i) não há sangue para verter, muito menos o nosso, ii) crime de que nos venham a acusar ou iii) culpa que possamos sentir. É um daqueles casos em que, existindo falha, é claramente da parte de outros: os que o abjuram, os que o detestam, os que não o programam e os que não o editam, independentemente da ordem.
A cópia, perdão, o ficheiro - é o hábito, bom hábito como podem ver - disponível não tem grande qualidade, o que estranhamente favorece o filme. Não é obra que se preste a grandes e / ou notáveis tratamentos digitais. Quer-se escura e granulada. Tal como a música, essa sim a pedir e a conseguir o notável, a cargo dos Tangerine Dream. Simbiose perfeita entre os compassos electrónicos, delongados e intensos, e a atmosfera de perda - perfeitamente projectada na fortaleza onde os incautos nazis libertam o assombro monstruoso, que também é o deles. Não só. É também o canto de uma época a outra, a das suas lendas. Castelos filmados com a antiguidade (devidamente) exposta em contraponto com os mistérios ocultos em memórias colectivas arrumadas algures entre o duradouro e o evanescente, atrás de portas secretas ou sob toneladas de pedra. Modernos ocupam o antigo e perdem-se definitivamente. Mas estes já estavam perdidos. Falamos de nazis.
Porquê tanta repulsa do seu autor? - Alguma perplexidade na parte alta do rosto. Estamos perante um potencial filme de culto. A quem serve? Pois não a nós, agora ciosos dos nossos 1,2 gigabytes de prazer intelectivo.
Aprendo:
* (Socialista)=Ressabiado!
Ressabiado=Alguém que diz algo com que o autor de um qualquer texto não concorda ao ponto de ficar vermelho de raiva, não pede desculpa por isso e não pede sequer desculpa por ser burro!
E pronto, fecha-se o círculo, (Socialista) =Burro obstinado, assumido e convencido!
* O entre parênteses é adequado aos artigos em causa, mas obviamente mutável consoante o respectivo credo e/ou a normal necessidade de generalização.
Dou a aprender:
As primeiras duas frases de The Great Gatsby, o notável romance de F. Scott Fitzgerald,
"In my younger and more vulnerable years my father gave me some advice that I’ve been turning over in my mind ever since. ‘Whenever you feel like criticizing any one,’ he told me, ‘just remember that all the people in this world haven’t had the advantages that you’ve had.’"
Filme de uma beleza inigualável. Filme de uma beleza difícil de aceitar. Inigualável pois não seria possível fazer o que se propôs fazer de forma mais eficaz, nesta Terra ou noutra, para este ou outro sublime mito qualquer. Difícil de aceitar pois já não é possível fingir não encontrar o irlandês católico, moralista por vocação, em cada plano. Luta finalmente perdida. Uma ode ao gigante Henry Fonda. Permite, ao menos, um sorriso. John Wayne, por exemplo, outro dos parceiros de Ford (na verdade: o parceiro), põe o caso no limite mínimo insuportável. É de justiça afirmar que é mínimo. Os valores de uma época e de um lugar específicos queriam-se, ainda se querem em certos sectores, universais, mas o Universo expandiu-se. Hollywood, o tal lugar, tanto esperneou que desapareceu. Deixou os valores por aí espalhados. Outras lutas, igualmente perdidas. As coisas são como são, segundo dizem os sábios populares. De certo modo, vemos apenas o que nos é permitido ver a cada momento... O filme, porque começou com um filme, enfim, esse é perfeito; é também incomodativo. Vejo-o, ao que disse antes, como uma das minhas grandes derrotas. Estranha forma de falar sobre uma obra-prima absoluta.
Fácil dizer...
Não foi possível escapar. Não há para onde fugir. Sou forçado a ler e, pior, a ver e ouvir. E o que vejo, ouço e leio diz-me que os que em tempos foram berço estão prestes a ser escorraçados da valorosa União. Culpa deles, dizem-me os que tenho de ter como meus; e que terrível circunstância esta, a obrigação de os ter como meus. Elevaram a voz, os inocentes que foram berço, agora fracos, destinados a perder. Vão perder. Mas não desistem. Acto de coragem? Claro! Acto de loucura? Depende. Os fortes não irritam, mas sim os fracos que se colam aos fortes e assim evitam ser – Não ser tornou-se em motivo para o triunfo. Mais uma vez falo dos meus. Dos que tenho de ter como meus. E desses já não quero saber. Mesmo que por vezes, em desespero de causa para com a minha misera humanidade consubstanciada, tenha de os ler e, pior, muito pior, ver e ouvir. Ponto final. Que se lixe também a ideologia. Cada um tem o Sócrates que merece. E a Maria com segundo nome de homem que merece (que até podia ser vista com bons olhos, ou seja, como uma mulher intrigante e bonita, mas, não sendo feia, tem as pernas demasiado gordas, o que, ao vivo ou a corpo inteiro, estraga tudo. Bem pintada na televisão, secretária de permeio, a coisa até escapa. Aquele ar frágil e pouco confiante em estranha mistura, confluência é a expressão, com o natural excesso de emoção sempre que o feminino toca o sucesso). Ou o Passos que merece. Ou o Costa que merece. Ou o Cavaco que… (bom, isso ninguém merece, nem sequer nós). Não voto por sistema. Encolho os ombros. A nobre justificação são as pessoas, que não reconheço. Não são bonitas. Não são brilhantes. Não falam de livros. Acreditam em falsos deuses (como o católico, ou todos os outros). Não dão a primazia às pessoas (mas, quanto a isso, hoje em dia já ninguém dá). Não sorriem fácil e livremente. Não acreditam no cinema (ao ponto de tal se notar, como se de uma outra pele se tratasse). São estritamente morais – sinónimo de falsidade. No fundo, não têm alma! Ponto final alongado, portanto. Mas não ressentido. Sorrio um sorriso válido e espontâneo. Tão espontâneo que só por muito pouco não o perdi. Sorriso cruel, porque nesse preciso instante recordo os gregos prestes a cair. Como é possível? Claro que é possível. Não só possível. É provável. Já não há Platão, porém em tempos houve. Que pena não haver vida depois da morte. Podíamos crê-lo em lágrimas, lá onde fosse. Imagem tão pungente como a da Pietá, não que quisesse ter o Platão nos braços. Sonhemo-lo, ao menos, como, em princípio, ele terá sonhado Sócrates. Já ninguém sonha. Só aborrecimentos. Só impedimentos à concepção do eu. Derradeira oportunidade não sei bem para quê. Como diz o Génio: “Pela singularidade e não por uma espécie de universalidade abstracta que não pertence a ninguém…”. Quem é o Génio? Eduardo Lourenço, pois claro! Que raio de sociedade esta, assente na falta de espaço por preencher. Não há espaço por descobrir no planeta, na totalidade ocupado pela nossa ambição. Por outro lado, a matemática descodificou o Universo, afastando-o de nós a velocidades inacreditáveis, pelo que, em rigor, não há espaço a descobrir, e certamente nada a preencher, é o que acontece perante o excessivo ilimitado. No interior, outra possibilidade, colocámos deus. Então e o eu? Nada de nada, a não ser que consideremos um I-Phone ou umas calças da Pepe Jeans algo. Lá confortáveis são, as calças de ganga. Mas para o I-Phone não vejo utilidade. Enfim, resumindo, os gregos para o abismo e todos bardamerda. É devido! Viva o novo Imperador!
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