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Passaram dezasseis e dois meses respectivamente
– Tornou-se possível: é oficial e por demais pesaroso, as duas pessoas que em
tempos diferentes mais me influenciaram e no processo me tornaram dependente das
externalidades que realmente importam (movies&books) já por cá não se
encontram (do qual, como anexo, concluo que os deuses sempre podem morrer). E
talvez nunca o tenham compreendido. Morreram espaçados por 14 meses e 3 dias.
Antes disso, viveram sempre como quiseram, pelo que tombaram em campo de acordo
com as disponibilidades orgânicas; um subtraiu 13 anos à experiência média de
vida, o outro ganhou-lhe 11. Ao que lhe subtraiu, a pátria ofereceu-lhe de
bandeja dois anos de arma na mão no meio de uma selva que diziam ser nossa por
não ter como o contrariar – ainda assim recusava-se a ver tais tempos como
perdidos, julgo mesmo que os olhava com saudade, pois o mundo é assim tão
estranho. Ao que lhe ganhou, por não se conformar, viveu no limite da então
legalidade – e não se conformou por uma simples razão: prenderam-lhe o pai pelo
grave crime de ter opinião e depois sentaram-no numa cadeira na sala de estar
para morrer, o que de resto fez em pouco tempo. Gostavam da vida, e como todos
os que gostam da vida preocupavam-se acima de tudo com a sua e nada ou quase
nada com a dos outros. E não, não era por falta de humanidade, pois de tal
atributo arrisco dizer que pecavam por excesso – um risco que recuso calcular.
O outro, fosse quem fosse, era o que queria ser e muito bem, ouvi várias vezes
dizer. Tomando um instante do inútil presente para a evocação: não votavam em
referendos sobre minorias ou assuntos do foro íntimo por uma questão de
princípio; tal como eu não voto – pela influência de ambos, pois sobre minorias
não devem decidir maiorias e sobre a intimidade de cada um deve decidir cada um
e não cada qual. E estas razões são hoje tanto as minhas quanto antes foram as
deles. Apesar de fundamental não é o que importa. O que pensavam pensam agora
outros, é o ponto, e assim a indignidade da morte pode ser atenuada – a queda
física, motor da indignidade, é o difícil de suportar, rouba-nos memórias
positivas e põe nesse lugar imagens de horror, de acidente de percurso. Nem
tanto o desaparecimento, pois esse não se torna efectivo quando nos deparámos
com deuses.

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publicado às 01:52


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