Frases avulsas escutadas nos meandros nocturnos do pós-cinema ou nos
intervalos festivalescos com nomes de pequenas vilórias (e nunca de grandes
cidades ou cervejas ou superlativos intercalados com grandes cidades ou
cervejas), em tons garridos e semi-alcoolizados, convencidos menos de si
próprios e mais pelas academias jornaleiras dos suplementos de fim-de-semana cada
vez com menos páginas, até que insiste-se, insistem, insistimos desaparecerão,
como refluxos de tempos que já não voltam. Frases que remetem inexoravelmente a
Ozu (o maior cineasta de todos os tempos, talvez com um talvez antes) e a Barret
(génio louco verdadeiramente louco e não apenas louco para dar imagem de si mesmo),
frases imediatamente apetecíveis de contestar por serem ditas no local e
momento e da forma mais impróprias. Frases tornadas medíocres e imperdoáveis por
serem, não há por onde fugir, terrivelmente verdadeiras. Frases com destinos,
portanto, horrendos, pois são para serem ditas pela voz interior, vividas para
além das respectivas linguagens – nestes filmes não vimos histórias e nestas
músicas não ouvimos melodias. Não em stricto sensu. Não são para serem vistos e ouvidas em salas de
cinema cheias ou concertos hiperbólicos. O sacrilégio, a existir, não é o sacrifício ao
insucesso que o dito anteriormente na aparência implica, é justamente pressupor-se o oposto. E raios laser e phaser para esses belos sucessos que
tanto amamos. Mas aqui o sucesso é outro, como antes aludido, interior. Não a
explosão de uma linguagem mas o sublime
através de um mecanismo que se suporta numa linguagem. A transcendência Zen (ver "Trancendental Style in
Film: Ozu, Bresson, Dreyer" by Paul Schrader), a sublimação formal como meio para algo
superior: a aceitação, o indivíduo atomizado, a pausa, a calma, a viagem
fantástica, o riacho estreito que corre durante as estações húmidas e no tempo que resta ainda se faz ouvir como um jorrar dos primórdios, a aceitação.