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“I knew I’d create sensation, gasped the Rocket. Then he went out.” – Disse um dos rapazes sentado à mesa, o de aspecto mais novo.
“Ah ah! Oscar Wilde!” – Respondeu o mais velho.
“Nope! Brian Slade!” – Refutou com um franzir de nariz o mais novo, a que logo adicionou um sorriso assacanado que lhe descia dos lábios para o pescoço, criando uma onda de puro prazer intelectivo.
Filho: "Mãe, não posso esperar mais, vou para a guerra."
Mãe: (...........)
Estribilho do Arauto: "Então Vem e Vê!"
Tentativa mais do que provavelmente vã de tradução do melhor texto de teatro moderno
(Primórdio):
WOYZECK - ACTO I - CENA I.
DENTRO DE UM QUARTO
(O Capitão sentado na cadeira; Woyzeck faz-lhe a barba. Movimentos bruscos.)
CAPITÃO – Calma, Woyzeck, calma; uma coisa a seguir à outra! Mas ele endoidece-me! Irra! E que fazer com os dez minutos que ele ganha, assim, a acabar tão rápido? Woyzeck pense: você só tem trinta dos lindos e melhores anos de vida, trinta anos! São trezentos e sessenta meses... e também dias, e igualmente horas, e minutos! E o que vai fazer com todo esse tempo? Convém planificar, estruturar Woyzeck!
WOYZECK – Sim, senhor Capitão!
CAPITÃO – Tremo pelo mundo sempre que penso na eternidade. O trabalho, Woyzeck, o trabalho! Eterno trabalho, ele é que é sempiterno - Você é capaz de ver isso, não é? No entanto, deixa de ser eterno num instante, é isso mesmo, num instante, Woyzeck. Sinto verdadeiro horror quando penso que o mundo dá uma volta completa num único dia! Que perda de tempo! Exactamente para onde é que isso nos leva? Triste sina. Já não posso ver a roda de um moinho, Woyzeck, sem ficar melancólico.
WOYZECK – Sim, senhor Capitão.
CAPITÃO – Você, Woyzeck!, sempre tão apressado, irreflectido, Woyzeck, um homem de índole não age assim, um homem de bem, com a consciência convenientemente tranquila. Mas fale, Woyzeck! Responda! Como está o tempo lá fora?
WOYZECK – Mau, senhor Capitão, mau. Vento forte e abundante.
CAPITÃO – Já o sinto, sim, é como se alguma coisa deslizasse de lá de fora. Esse tal de vento obra sobre mim como um rato. (Matreiro) Parece que vem na direcção sul – norte.
WOYZECK – É isso mesmo, senhor Capitão.
CAPITÃO – Ha, ha, ha! Sul – Ha, ha, ha! Norte. Oh, como é tolo, lastimável e tolo! (Comovido) É um bom homem, na verdade, bom, logo cheio de bondade, enfim… Mas, (Altivo) Woyzeck, não tem moral. Moral é quando se tem essa coisa e tal da moralidade, percebe? É uma bela palavra, das melhores. E depois um filho sem a graça da Igreja, como diria o nosso reverendíssimo capelão. Sem a graça da Igreja, Woyzeck. E meu garanto que não é.
WOYZECK – Senhor Capitão, o bom Deus de lá de cima e de todos nós não deixará de cuidar do pobre bicharoco só porque os seus e outros tão seus quanto os seus não disseram "amém" antes do bichinho ser feito. O Senhor não disse: Vinde a mim as criancinhas?
CAPITÃO – O que diz ele? Que resposta esta! Consegue deixar-me confuso. E quando o digo, refiro-me a você, a você, Woyzeck…
WOYZECK – Nós, os pobres... Sabe, senhor Capitão, é o dinheiro, é o dinheiro! Quem não tem dinheiro. Moralidade! Por vezes, um de nós lembra-se de colocar um dos nossos diante dessa máxima do mundo. Também temos cá para dentro carne e sangue. Não somos apenas desgraçados, neste mundo ou no outro. Acho que, se chegássemos ao céu, lá chegando, iríamos ajudar a fazer trovões.
CAPITÃO – Woyzeck, entenda, você não tem virtudes, você não é virtuoso. Carne e sangue cá para dentro! Quando estou à janela, depois da chuva cair, vejo meias brancas a passar, aos pulinhos pelas vielas… Caramba, Woyzeck, o que eu quero é amor. Pois, também tenho carne e sangue. Mas, Woyzeck, observemos, há a virtude, a V+I+R+T+U+D+E! Digo sempre para o meu reflexo: Woyzeck é um homem virtuoso e tal e tal (Comovido), um homem bom. Um homem bom! Ainda assim, tenho de passar o tempo…
WOYZECK – Sim, senhor Capitão, o tempo, a virtude. Essa não tenho. Sabe, nós, a plebe, nós não temos virtudes, nós só seguimos a natureza. No entanto, se eu fosse um senhor... Se tivesse um chapéu, um relógio e uma bengala, e se soubesse falar bem e de alto preço, então seria virtuoso, senhor Capitão. Mas eu sou um pobre coitado.
CAPITÃO – Está bem, Woyzeck, está bem… Você é um homem bom, um homem bom. Mas pensa demais. E isso aflige. Sempre tão apressado… Essa conversa esgotou-me por completo. Agora vá embora e não corra tanto; vá devagar, desça a rua devagarinho!
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